26 may 2015

A nossa língua e as nossas falas.

Dedicau a mei defunto padre Segundo Corredera, que me ensinou a querel a nossa fala valverdeira e aos meis maestros, especialmente a J. Luis Martín Galindo e Eduardo S. Maragoto.

     Sendo um zagal pensava que tínhamos que escrivil vestindo as nossas falas lagarteira, manhega e valverdeira com o traje castelhano porque dessa maneira nos ensinaram nas escolas a represental os nossos sentimentos, e porque o que nós falamos sõ trés variedais de ũa língua que se fala em território espanhol.

Nessa deriva naveguei durante muto tempo, convenciu por estas razõs que qualquer outra forma de traçar os nossos pensamentos sobre o papel apartava as nossas falas da sua essência.  

Os anos procuram-nos experiência e sossego para medital com mais atenciõ sobre aquelas questiõs que sõ importantes para nós.

Se entonces alguém me havera dito: Tonho, o que vós falais representa-se melhor na escritura se vos acercais à maneira na que o fazem os vossos vizinhos portugueses. Havera contestau:  vai-te p'aí e nõ me andes esquentando a cabeça!

Agora penso que estava equivocau, e defendo que temos mutas palavras que nõ podemos vestil com o traje castelhano, porque este nõ representa de maneira diferente palavras que soam pareciu pero que identificam coisas distintas nas nossas falas, como: presa, pressa, asa, assa, queijo, queixo...

As valverdeiras e valverdeiros hemos perdiu a conciência destas diferências quando falamos, pero isso nõ é pretexto para ter que deixar de representá-las. Por outro lau, nõ fai falta que manhegos, lagarteiros e valverdeiros quebremos as nossas cabeças inventando formas de represental as palavras que tinham a sua grafia antes de que nós pensáramos que o que falamos poderíamos tamém escrivi-lo. 

Considero ademais que ũa língua é prenda que tem que elaborar-se de um pano, evitando peças de telas distintas porque isso enche o padrõ de tantas dispensas que cada um escriviria como le parecera sendo difícil de ensinal a quem quisera aprendé-la.

Haverá quem pense quando me vai lendo que montal um traje para A Fala levará à desapariciõ das falas locais. Pensal desta maneira é o mesmo que dizel que os de New York perderã a sua forma de falal distinta à londinense porque escrivem o inglés. Que os brasileiros, angolanos e resto de falantes lusos perderã as suas formas locais de falal por utilizal o portugués. Que os distintos falantes do espanhol perderã as suas formas de falá-lo por tel que aprendel o espanhol.

escrivindo em xalimego
Fotografia de Fernando Montes Macías.
Para entendel o que digo neste trabalho temos que sel conscientes de que em cada lugal se fala de maneira distinta ũa mesma língua. As pessoas falantes lagarteiras, manhegas ou valverdeiras temos, como os neoyorkinos em relaciõ ao inglés, os angolanos com o portugués e os andaluzes em relaciõ ao castelhano; a nossa forma local de expressal aquilo que vemos escrito da mesma maneira. Inda nõ vi no dicionário espanhol forma distinta de escrivil cada palavra desta expresiõ andaluza: ¡Ozú mi arma qué caló gace! que nõ fora assina: !Jesús mi alma qué calor hace!  E repito que nõ conhoço outra forma de escrivi-la porque as distintas formas de falal em Andaluzia, sõ formas de falal o espanhol. Essa frase correta na folha pode havel siu escrita por um andaluz, um cacerenho, murciano, madrilenho, valhisoletano, albacetense, avulense, alavés, oscense...; pero escrita nõ me di de onde é a pessoa que a escriviu-a. Coisa distinta é quando a escutamos dizel de viva voz a cada um deles. 

Mutos espanhóis e espanholas dizemos - falando à nossa maneira o castelhano: deo, Madrí, dao, cuñao, capá, pa, Badajó, ciudá... pero quem sabe ler e escrivil, quando tem que plasmal estas palavras sobre o papel as reproduze completas, sem questional porque tem que grafá-las de forma distinta a como as pronuncia, e assina escrive: dedo, Madrid, dado, cuñado, capaz, para, Badajoz, ciudad... sem parecer-le estranho a naide.

Quando falamos em valverdeiro, lagarteiro ou manhego, estamos declamando na nossa maneira do lugal ũa mesma língua, que é única. Pero ademais, essa língua contempla todas as palavras, giros, expresiõs... que estã nos trés lugares, como aquelas outras que se conservã em um dos trés e que os outros já perderam.  

Agora tenho que dizel que a minha proposta para escrivil a língua é compartia por pessoas que investigam as nossas falas e que sigo postulaus que nõ sõ novos, porque de forma similar já deixaram a sua visiõ em trabalhos editaus, tendo em conta à hora de exponhé-la a opiniõ quase unánime de que A Fala provem da língua romance galaico-portuguesa, na que tamém se contemplã outras influencias que comparte com mais falas meridionais espanholas.  

Desde este ponto de vista, opino que nõ devemos modifical grafias que já existem e que gozam do mesmo significau que les damos nas nossas falas. Palavras como: anduriña, borrallo, castañeiro, enciño, engadañar, espiñeiro... tenem poico sentiu escritas desta maneira porque em Espanha soarã estranhas e nos sítios onde as dizem igual que nós, pensarã que nõ sabemos escrivi-las. Em castelhano, a anduriña se chama golondrina ou andurina, mentras que nos sítios que a pronunciam igual que nós escrivem: andurinha; se tomamos o borrallo, na língua oficial do Estau espanhol é borrajo, e nos sítios que a conhocem como nós, escrivem: borralho; e desta mesma maneira vos poderia dil contando do resto das palavras relacionás.

A diferência entre a língua e as falas está em que a primeira é ũa forma comum que as pessoas consideramos correta. É o que se chama normativa que tem a misiõ principal de facilital a comunicaciõ e a aprendizage, pero se consigue renunciando às formas locais em benefício das formas comuns.

Mentras sigamos pensando que as trés formas de falal se escrivem de maneira distinta, seguiremos tendo isso, tres falas ou chapurraus, pero nõ chegaremos mais longe. A língua, que a maioria da gente chama A FALA, é outra coisa porque a sua funciõ é a de sumal criando ũa unidai que poda sel ensiná em qualquer sítio, possibilitando que pessoas de fora dos nossos lugares contem com ũa ferramenta fácil de aprendel e útil. Mais adientre, quando estas pessoas de fora ou aqueles que sendo de cá a pratiquem oralmente, segum com quem mais se comuniquem, darã ao sei verbo um sabor mais lagarteiro, manhego ou valverdeiro.

Se chegaste a ler asta aqui, agradeço o tei interesse e assumo que a tua postura pode sel totalmente contrária à que ei acabo de dar-vos a conhocel; assumo tamém que haverá quem nõ entenda o que escrivi, agradecendo igualmente a quem me o di de frente, aportando as suas razõs, porque me ajuda a seguil crecendo.

Isto é o que penso trás muto estúdio, meditaciõs, investigaciõs..., dando voltas à cabeça sobre o tema; seguro que tem mutas faltas e que poderei estal equivocau; por isso este artículo o saco à luz sem outra pretensiõ que a de aportal o mei ponto de vista pero com o mesmo amor e carinho que  o que professam os que trabalham por a preservaciõ das nossas falas e a nossa língua, inda que levem caminhos distintos.

Vos mando nesta folha mutas grácias com abraços xalimegos e os meis deseus de que procureis sel felizes.

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